segunda-feira, 29 de abril de 2013

Autores da Shahid em feiras de livro



Feira Pan-Amazônica do Livro | 26/04 a 05/05 
José Castello 
Guilherme Fiuza 


Prospecção de autores para a feira 
Tony Belloto 
Merval Pereira

As "Clarices" de Bollina

Artista desde pequena, atriz de musicais, admiradora – e, de algum modo, seguidora – de Clarice Lispector. Assim é Luciana Bollina, jovem escritora com muitas histórias a contar. A primeira delas a virar romance, Clarices, é uma homenagem à escritora que lhe encorajou a dar asas à sua “escrita profunda”. A história de amor entre a artista plástica Clarice e o poeta de rua Gabriel aconteceu, parte dela, na vida real – e tomou forma de romance, de alma jovem e escrita literária, neste que é o primeiro livro da autora. Nesta entrevista a Shahid, Bollina fala sobre a sua literatura, criação, escritores que a inspiram e adianta seus novos projetos – por enquanto, um livro de contos e uma peça musical.


Você é atriz, bailarina e cantora. Quando se interessou também pela literatura?
Sempre gostei de escrever e inventar histórias para os meus irmãos mais novos. Mas eu escrevia mais em diários, como quase toda menina. Desde muito nova, sempre estive apaixonada por alguém e isso me levava a escrever e projetar sonhos no papel. Acontece que cresci e continuei escrevendo, sobre tudo o que me fazia pensar. Era como um exercício para mim mesma, bem auto-biográfico. E com a leitura, tive vontade de começar a contar histórias também. Alguns autores são os culpados disso, porque me apaixonei por eles. 

Clarices conta, em meio a conflitos e (des)encontros, a história de uma jovem em busca do amor e do seu lugar no mundo. Como nasceu a história?
Essa história aconteceu comigo. Não como no livro, mas foi inspirada num fato verídico. Eu estava saindo de uma loja quando encontrei um poeta vendendo seus livrinhos artesanais. Achei-o interessante e puro, não sei, e acabei comprando seu livro por cinco reais. No livro, havia seu e-mail, e resolvi lhe escrever dizendo o que tinha achado da obra. Ele me respondeu marcando um encontro. Acho que aquilo nunca tinha acontecido com ele, com certeza nunca tinha acontecido comigo. Nos encontramos, conversamos muito, mas nunca mais o vi. E criei milhões de histórias que poderiam ter acontecido. Escrevi um conto por causa desse encontro e, depois de anos, tive vontade de transformá-lo em romance. E essa história foi apenas o estopim para que eu colocasse no papel muitos questionamentos que sempre me acompanharam.

Como se deu o processo de escrita desse seu primeiro romance? Você acha que a experiência com outras formas de arte a ajuda como escritora?
Com certeza ajuda. Tanto é que dentro do livro acontecem duas peças – uma das personagens é atriz, o mocinho é escritor e a Clarice é artista plástica! Tentei colocar no livro um pouco da minha realidade. É disso que sei falar, porque vivo. Mas hoje tenho muita vontade de criar uma história totalmente diferente das coisas que eu vivo e sinto. Por exemplo, a história de um assassino que é obcecado por matemática! Como exercício, acho que seria maravilhoso. Mas acredito que nunca vou poder fugir da minha experiência. É através dos meus olhos e do meu sentimento que crio. Uma história inventada nunca é tão inventada assim. 

O título do livro remete sutilmente à Clarice Lispector. Foi proposital? Que relações há entre as histórias dela e a sua?
Esse título surgiu, na verdade, porque coloquei o nome da minha heroína de Clarice. E não foi por acaso. Eu comecei a dar asas à minha escrita profunda, como costumo chamar, por causa dessa escritora. Quando li Clarice Lispector, assim como muitas mulheres, fiquei paralisada, em êxtase e louca para colocar para fora tudo aquilo que sentia. E só pela escrita achei que seria possível. Primeiro escrevi uma peça, chamada Voo, que montei e representei. Era um monólogo em que eu dizia coisas que estavam travadas na minha garganta. Que, incentivada por Clarice, consegui disparar. Fiquei em cartaz durante dois meses em São Paulo e depois fui para Curitiba. Mais tarde, tive vontade de montar um blog e continuar dando asas a novos voos. Então, na verdade, o nome da minha heroína – e o título do meu primeiro livro – é uma homenagem a essa grande mulher que me encorajou a revirar e me mostrar como sou. 

Que outros escritores a influenciam? 
Eu adoro Hermann Hesse, Machado de Assis, Virgínia Wolf. Agora estou lendo James Joice e ele está abrindo a minha cabeça. Também tenho um fraco pela poesia de Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa e Hilda Hilst. Todos eles são professores maravilhosos com quem gostaria de tomar um café. Os contemporâneos que me instigam e admiro são Godofredo de Oliveira Neto, com seu romance Menino oculto, e Marcelino Freire, com seus contos em Angu de sangue.

Você já tem novos projetos na literatura?

Tenho um novo projeto, mas não se trata de um romance. É uma peça musical. Eu, como atriz de musicais, tenho vontade de realizar um totalmente brasileiro e moderno, que fale com a juventude – que não frequenta teatro, muito menos teatro musical. Está sendo um desafio, mas estou me esforçando. Além disso, quero reunir meus melhores contos, que estão todos na gaveta, e publicá-los. Acho que Marcelino Freire é quem está me fazendo ter vontade disso.