terça-feira, 27 de novembro de 2012

É feira ou é festa? É festa!



Uma festa para o povo! Foi exatamente isto que senti ao participar da VIII Festa Literária Internacional de Pernambuco e de seus núcleos de atividades.

Este sentimento surge ao ver pessoas de todas as classes sociais se envolverem com a multiplicidade de temas propostos e com as várias maneiras de travarem contato com o livro e a literatura.

Não somente os amantes de Nelson Rodrigues puderam se deliciar com os debates do Congresso Literário. Os leitores também conheceram novos escritores e compartilharam momentos com os já tão queridos. Não somente os adultos foram contemplados: tinha muita festa para as crianças, os jovens... e até para os bebês!

Não somente através de formas tradicionais foi possível mergulhar no mundo literário, mas também utilizando linguagens e ferramentas variadas: cinema, música, oficinas práticas, gastronomia, ecologia, mundo digital... e o povo participou de tudo!

Foi uma festa de prazer para os cinco sentidos. Para os olhos, o charme de Olinda, a diversidade de rostos e olhares que compõem nossa gente e os sorrisos múltiplos, incansáveis, encantadores. Na pele, sol de rachar, braços roçando, roupa que gruda e o fresquinho do ar refrigerado... porque ninguém é de ferro! Ao paladar, o contraste entre as delícias dos chefs e os populares pastéis, acarajés e tapiocas preparados na hora. Os cheiros no ar eram muitos, dos tipos pipoca, flor se abrindo, suor infantil, café, tinta no papel. Para os ouvidos foram reservados momentos mágicos como a voz de Bethânia, o lamento flamenco, a criançada cantando, a música medieval na calçada e as melodias de Capiba, sob a batuta de mestre Suassuna.

Quatro autores da Shahid estiveram nesta Fliporto: José Eduardo Agualusa, com sua literatura arrebatadora; Sonia Rodrigues, presente de corpo e alma; José Castello, divertido e gentil; e Luis Eduardo Matta, irreverente e cativante.

Tudo refletiu cultura, alegria, cumplicidade, dedicação e prazer... e o povo adorou!

Por Isabel Valle, enviada especial da Shahid à Fliporto 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Da vivência à escrita de Adilson Xavier


Dosando as experiências que teve na publicidade, no direito e na própria literatura, Adilson Xavier lança às páginas de seu segundo romance, Sobrevoando Babel (Record), um olhar crítico e ao mesmo tempo sensível sobre a fragilidade das relações sustentadas pelas aparências do mundo moderno. Seu protagonista, um executivo de sucesso, é no fundo frustrado e sozinho. Nesta conversa à Shahid, Adilson compara Sobrevoando a seu livro anterior, fala sobre a importância da escrita em sua vida, de onde extrai a ‘matéria-prima’ de seus livros e do desejo de continuar se desafiando.

Como surgiu Sobrevoando Babel?
Surgiu da minha vontade de abordar o vazio existencial em que o mundo globalizado está se metendo, falar da superficialidade crônica da vida moderna, a partir dos "bem-sucedidos", dos que ostentam cargos importantes, realizam seus sonhos de consumo, ganham mais do que precisam e, ainda assim, seguem acumulando infelicidade. Mas também surgiu como um contraponto ao meu romance anterior, E. O Atirador de Ideias, onde o protagonista é humilde, vindo do interior para o Rio de Janeiro e, empenhado em seguir um conselho de seu pai para "ser alguém", encontra um sentido maior em sua vida. Os protagonistas dos dois livros são absolutamente opostos, mas complementares. O Douglas, de Sobrevoando Babel, era necessário para fechar o raciocínio iniciado com o José, do Atirador de Ideias.

E que relação há entre os dois livros?
A relação é forte, é mais ou menos como falar do convívio dos "alguéns" com os "ninguéns". Os "ninguéns" sonhando passar para o time dos "alguéns", por considerar que ali está a felicidade. E os "alguéns" ignorando solenemente a existência dos "ninguéns", sequer os enxergando, sentindo-se como os donos do mundo enquanto se perdem de si mesmos. O "alguém" de Sobrevoando Babel passa por cima dos "ninguéns" como o José do Atirador de Ideias. Eles não se comunicam, e no fundo de tudo o que eu escrevo o grande tema é sempre a comunicação, ou a falta dela.

Quanto dos seus livros vem da sua vivência na publicidade?
A matéria-prima da escrita é a vivência. E a publicidade proporciona uma riqueza de vivências muito grande. Um dia estamos estudando as donas de casa da classe C, outro dia estamos lançando um carro para os executivos da classe A, e assim por diante, o que acaba nos ensinando muito sobre o comportamento humano. Sem falar nos relacionamentos com clientes dos perfis mais distintos e com parceiros de trabalho, no Brasil e no exterior. Fora isso, as experiências vividas como advogado especializado em Direito de Família no início de minha vida profissional são fonte inesgotável de características para meus personagens.

Quando decidiu se tornar escritor? Que espaço a literatura ocupa em sua vida?
Foi por volta de 2004, quando decidi que tentaria colocar no papel minhas ideias sobre a extraordinária competência comunicativa de Jesus Cristo. Só tive certeza de que era capaz de escrever um livro quando coloquei o ponto final no Deus da Criação. Aquilo me deu uma alegria tão grande que não quis mais parar. A literatura coloca minha vida em perspectiva. Lendo, posso ampliar meu leque de vivências e aprender a me comunicar cada vez melhor. Escrevendo, posso esquadrinhar tudo o que me cerca, brincar com o imaginário e ganhar mais musculatura. Literatura é como ginástica, se não pratico, fico pesado, menos saudável.

Quais seus planos para o futuro?
Continuar me desafiando. Colocar mais ideias na rua, explorar mais possibilidades narrativas. É uma delícia a sensação de iniciante toda vez que começo a desenvolver um projeto. Quando lanço um livro, já tenho outro em processo de criação. Meus planos para o futuro? Criar futuros (risos).

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Escritores da Shahid em eventos literários em 2012

05/11 – Angela Dutra de Menezes
08/11 – Leandro Narloch

Sempre um papo, com Afonso Borges (SP)
6/11 – João Gilberto Noll
13/11 – José Eduardo Agualusa

FLIARAXÁ  Feira do Livro de Araxá (MG)
10/11 – José Eduardo Agualusa

FLIPORTO  Festa Literária Internacional de Pernambuco (PE)
15 a 18 de novembro
José Castello
Sonia Rodrigues
José Eduardo Agualusa
Luis Eduardo Matta

27/11 – Marcos Eduardo Neves

FLIMAR  Festa Literária Marechal Deodoro (AL)
29/11 – Marilia Arnaud

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

As palavras e os silêncios de Marilia Arnaud


Suíte de silêncios (Rocco, 2012) é o primeiro romance da paraibana Marilia Arnaud, já premiada como contista. Sete anos depois de publicar O livro dos afetos, sua obra mais recente, a escritora volta a falar sobre sentimentos e perdas. Em Suíte, Duína se vê tendo de lidar com o abandono pela segunda vez em sua vida – e assim reconstrói, em dois relatos que se alternam no tempo, suas lembranças e desesperanças. Em entrevista à Shahid, Marilia – que vê na internet uma aliada dos autores de fora do eixo Rio São Paulo – fala sobre sua formação literária, seu amadurecimento como escritora, prêmios e reconhecimentos e os mistérios que envolvem sua criação.

Entre O livro dos afetos e Suíte de silêncios, passaram-se sete anos. O que amadureceu na escritora nesse período?
Como não tenho pressa em publicar, trabalho com afinco e determinação, sempre disposta a fazer melhor do que já fiz. Cobro muito de mim mesma. Não tenho dúvidas de que dei um salto entre o meu último livro de contos e o primeiro romance. Isso é natural, quando se investe na carreira literária. Se o escritor não avança, se permanece com o mesmo texto, não é escritor. Então, é melhor desistir.

Como surgiu Suíte de silêncios?
Tracei um esboço de um romance, e acabei escrevendo outro. A criação é algo bem misterioso! De início, projetei apenas uma violinista obsessiva e atormentada com a própria falta de talento, porque queria escrever sobre o valor da arte na vida das pessoas, e foi outra mulher que se impôs, com uma história de vida que eu não planejara, como se o livro se escrevesse por ele mesmo. É isso que costumo chamar de o sopro da criação. Você está ali, com uma determinada história para contar, e de repente, como se alguém soprasse no seu ouvido, você vai escrevendo outra.

Você já disse que escrever Suíte de silêncios exigiu muito de si. Por quê?
Inicialmente, pelo fato de ser o meu primeiro romance. Penso que as dificuldades na construção de um romance não são maiores do que aquelas com que nos deparamos na de um conto, são, na verdade de uma outra ordem. Penei até encontrar o tom, o ritmo certo, e a coisa começar a fluir. Além da tensão dolorosa que envolve a própria escritura, o Suíte de silêncios é uma história de perdas, abandono, desesperança. Acabei sendo tomada pelas lembranças de Duína, a protagonista, por seus sentimentos de desamparo e inadequação.

Qual é a sua formação literária? Quando e como começou a ler e escrever?
Meu pai tinha uma boa biblioteca em casa e, na escola, exigiam (mesmo!) que lêssemos José de Alencar, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Machado de Assis, entre outros. De certa forma, todos os grandes escritores que li despertaram em mim o desejo de escrever. Zola, Balzac, Eça de Queiroz, Dostoievsky, Tolstoi, Shakespeare, André Gide, Marguerith Yourcenar, Virgínia Woolf... Também comecei a escrever ainda menina. Escrevia à noite e lia na manhã seguinte, na hora do recreio, para meia dúzia de colegas que abriam mão das brincadeiras para ouvir minhas histórias.

O fato de viver longe do eixo Rio São Paulo atrapalha a carreira do escritor?
Dificulta, sim. Mas acho que já foi bem pior. Houve um tempo em que não se conseguia sequer fazer um editor ler os originais de um autor que vivesse fora do eixo, com raras exceções. A internet, os blogs literários, as redes sociais abriram um canal de interação entre o meio literário do eixo Rio São Paulo e o resto do país, facilitando a vida de todo mundo que escreve.

O que mais gostaria que acontecesse com Suíte de silêncios? Um prêmio literário?
Gostaria que o Suíte de silêncios tivesse muitos leitores. Leitores espalhados pelo Brasil inteiro. Que fosse editado noutras línguas. Um prêmio literário? Também! Até porque o prêmio traz com ele mais leitores. Qual o escritor que não deseja o reconhecimento público do seu trabalho?