quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Luis Novais lança "Os Parricidas" no Brasil



Luis Novais lança Os Parricidas (Novo Século), com noite de autógrafos na terça-feira, 18, na livraria Argumento no Leblon, Rio de Janeiro.

"Foi a treze de maio que avistei o Diabo". É desta forma que o anti-herói deste livro começa a descrição da sua saga. A saga de uma mente esquizofrênica, alucinada pela missão que lhe foi dada pelo Diabo, e que nos é assim descrita: "Por fim ele levou a cigarrilha à boca. Sorveu-a pausadamente: como se fosse dono do tempo. Expirou uma baforada: como se continuasse dono do tempo. Olhou-me nos meus. Disse-me tudo o que me disse naquela aparição. Disse-o com uma voz indefinível: simultaneamente imperativa e melodiosa..." Seguem-se outras quatro aparições e a promessa de um sinal. Mais do que um livro escrito na primeira pessoa por um alienado mental, Os Parricidas nos faz refletir sobre os pés de barro dos nossos dogmas civilizacionais e nos lança nos abismos das pseudocertezas do homem moderno.

Serviço:

Lançamento Os Parricidas

Data: Terça-feira, 18 de outubro

Horário: 19h30

Local: Livraria Argumento

Endereço: rua Dias Ferreira, 427 - Leblon - Rio de Janeiro

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



Você gosta de escrever?

Participe do ciclo de encontros

O escritor como guia
Pelos caminhos do conto, prosa e poesia

Carlito Azevedo, Lúcia Bettencourt e Tatiana Salem Levy falam sobre as artes da poesia, conto e romance, respectivamente, no ciclo de encontros O escritor como guia – pelos caminhos do conto, prosa e poesia, promovido pelo SESC Rio em três quartas-feiras de agosto (10, 17 e 31), de 14h às 18h, nas unidades do SESC Tijuca, São João de Meriti e Teresópolis. O propósito é estimular a leitura e a expressão escrita por toda pessoa que goste de ler e escrever.

Ao longo do mês os três escritores passarão pelas três unidades do SESC, em formato de circuito. Cada encontro terá roda de leitura, bate-papo com o autor, exercício prático e comentários. Funciona assim:
• No início do encontro, um representante do SESC Rio apresenta o escritor.
• O convidado faz uma breve palestra de 20 minutos contando sua trajetória para se tornar escritor.
• Começa a roda de leitura com o escritor lendo um capítulo ou trecho de um de seus livros.
• Em seguida, as pessoas fazem perguntas e o escritor responde.
• Coffee break.
• O escritor faz uma breve palestra sobre a criação literária e propõe um exercício prático. Os alunos têm meia hora para escrever.
• Os alunos que quiserem podem ler seus textos. O escritor comenta e os participantes comentam.
• Encerramento.

Classificação etária: a partir de 14 anos. Vagas limitadas. Entrada franca.

Informações e inscrições: 2755-6828 (S. João de Meriti); 21-2743-6942 (Teresópolis); 3238-2064/2121 (Tijuca)/ SESC Rio; 3079-2048; Shahid

Escritores
Carlito Azevedo – Vencedor do Prêmio Jabuti com o livro de poesias, Collapsus Linguae (1991); editor da página Risco, no suplemento Prosa & Verso, do jornal O Globo.

Lucia Bettencourt - Vencedora do Prêmio SESC de Literatura 2005 na categoria Contos com o livro A secretária de Borges (Ed. Record)

Tatiana Salem Levy - Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura 2008, categoria Autor Estreante, com o romance A chave de casa (Ed. Record).


Serviço:

Dia 10 de Agosto
SESC Tijuca – Lúcia Bettencourt
SESC S. João de Meriti – Tatiana Salem Levy
SESC Teresópolis – Carlito Azevedo

Dia 17 de Agosto
SESC Tijuca – Carlito Azevedo
SESC S. João de Meriti – Lúcia Bettencourt
SESC Teresópolis – Tatiana Salem Levy

Dia 31 de Agosto
SESC Tijuca – Tatiana Salem Levy
SESC S. João de Meriti – Carlito Azevedo
SESC Teresópolis – Lúcia Bettencourt

Endereços
SESC/Tijuca – Rua Barão de mesquita, 539 – Tijuca – RJ
SESC/São João de Meriti – Av. Automóvel Clube, 66 – Centro – São João de Meriti – RJ
SESC/Teresópolis – Rua Delfim Moreira, 749 – Centro – Teresópolis – RJ

Realização: SESC Rio
Curadoria e produção: Shahid Produções Culturais

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Jogar-se à vida - Ruy Castro fala sobre o Solar da Fossa na Folha de S. Paulo

Jogar-se à vida

RIO DE JANEIRO - Uma velha amiga minha de São Paulo -nem tão velha assim, e muito bonita- me diz que seu filho, de 39 anos, mora com ela. Não é que "ainda" more com ela. Ele apenas mora, desde o dia em que nasceu, e não há indícios de que esteja planejando se emancipar e morar sozinho. A mãe, a essa altura, já desistiu de fazê-lo desconfiar de que ela, sim, gostaria de um pouco de espaço (e privacidade) para viver sua própria vida.

Ao ouvir isso, levei um susto. Aos 39 anos, eu já tinha saído não só da casa de meus pais como de dois casamentos, e morado em dez endereços de quatro cidades em dois continentes. Era só no que os garotos da minha geração pensavam -jogar-se à vida, longe da saia materna ou da mesada paterna. Supunha-se que, enquanto se morasse com a família, estava-se dispensado da maturidade.

Um desses endereços, em 1967, foi o Solar da Fossa, um casarão colonial em Botafogo, perto do túnel Novo. Nele tinham ido parar rapazes e moças de fora e de dentro do Rio, todos em busca de liberdade para criar, trabalhar, namorar ou não fazer nada, enfim, viver. Ali, um dos moradores, Caetano Veloso, compôs "Alegria, Alegria"; outro, Paulinho da Viola, "Sinal Fechado". Grupos como o Momento 4, campeão dos festivais, e o Sá, Rodrix & Guarabyra se formaram em seus quartos.

Três de nossas lindas vizinhas estrelaram as páginas de "Fairplay", a primeira revista masculina do Brasil: Betty Faria, Itala Nandi e Tania Scher. Paulo Leminsky escrevia seu romance "Catatau". O pessoal do Teatro Jovem, que estava revolucionando o teatro brasileiro, morava lá, assim como metade do elenco de "Roda Viva", em ensaio no outro lado do túnel. Os namoros eram a mil. Até o autor francês Jean Genet, de passagem pelo Solar, se enrabichou por um dos nossos.

Se aquela turma morasse com a mãe, nada disso teria acontecido.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

I Feira Literária de Tocantins

A atriz Fernanda Montenegro, o presidente da Bilbioteca Nacional, Galeno Amorim, e grandes estrelas da literatura brasileira, entre elas, quatro autores da agência Shahid - Ana Paula Maia, Angela Dutra de Menezes, Guilherme Fiuza e Nei Lopes - fazem parte da programação da I Festa Literária de Tocantins - FLIT (AQUI, SE NÃO CONSEGUIR ATIVAR O LINK, COLOQUE POR EXTENSO) -, que começa nesta segunda-feira, 25 de Julho, e vai até 3 de agosto.

A festa acontece em Palmas, capital do estado de Tocantins, e é um desdobramento do Salão do Livro do Tocantins, que emplaca o seu sétimo ano. O tema que alinhava a feira de livros, desta vez, é a Diversidade, já que em 2011 comemora-se o Ano Internacional dos Povos Afro-Descendentes, o Ano Internacional das Florestas e o Ano Internacional da Química. Por isso, é muito apropriado convidar Nei Lopes, que acaba de lançar o Dicionário da antiguidade Africana (Record); Angela Dutra de Menezes, que falará sobre a influência das culturas árabe, judaica e portuguesa na colonização brasileira; e Guilherme Fiuza, cujo romance Amazônia 20º andar (Record) conta a história de uma empresária carioca que largou tudo para apostar na economia da floresta. Ana Paula Maia, por sua vez, vai divulgar seu lançamento mais recente, Carvão animal (Record).

Laurentino Gomes, João Gilberto Noll, Ruy Catro, o português Miguel de Souza Tavares, Marina Colasanti, Thalita Rebouças, Cristóvão Tezza, entre outros, completam a programação, que também inclui apresentações de música e de teatro. Estima-se que mais de 500 mil pessoas visitem a FLIT 2011.

Veja abaixo a agenda dos escritores de Shahid no evento:

Guilherme Fiuza, dia 27 de Julho, quarta-feira, às 20h30 no Auditório Juarez Moreira Filho.

Nei Lopes, dia 28 de Julho, quinta-feira, às 17h no Auditório Juarez Moreira Filho.

Angela Dutra de Menezes, dia 29 de Julho, sexta-feira, às 16h no Auditório Juarez Moreira Filho.

Ana Paula Maia, dia 2 de agosto, terça-feira, às 20h40 no Café Literário.








por Rodrigo Canuto

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Solar da Fossa revive no livro de Toninho Vaz

Era uma vez um casarão colonial em Botafogo, onde hoje fica o shopping Rio Sul, que mudou para sempre os rumos da cultura carioca e brasileira. De 1964 a 1971, passaram pelo Solar da Fossa alguns dos principais nomes da música popular, teatro, cinema, televisão, imprensa e política.

Entre os inquilinos que viriam se tornar famosos estão: Caetano Veloso, Gal Costa, Paulo Coelho, Paulinho da Viola, Paulo Leminski, Tim Maia, Maria Gladys, Betty Faria, Ítala Nandi, Antônio Pitanga, Marieta Severo, Zé Kéti, Gutemberg Guarabyra, Abel Silva, Cláudio Marzo, Mauro Mendonça, Naná Vasconcelos, Adelzon Alves e Darlene Glória, a maioria na faixa de 23 ou 24 anos. “Se havia um terremoto cultural e político acontecendo na cidade maravilhosa, o Solar era o epicentro”, define o jornalista e escritor Toninho Vaz.

Toninho é o autor de Solar da Fossa - O berço da vanguarda cultural e política dos anos 1960 (Editora Casa da Palavra). Para a pesquisa do livro, ele entrevistou 100 pessoas. “Até o último minuto para fechar o livro, eu continuava achando ex-moradores do Solar, todos com ótimas lembranças daquela época”. Como, por exemplo, o ex-ministro Cristovam Buarque e o atual ministro Moreira Franco, também ex-moradores do Solar.




No Solar foram compostas mais de 15 canções-emblemas da Música Popular Brasileira, como Alegria, alegria, de Caetano Veloso; Sinal Fechado de Paulinho da Viola; e Paulo Leminski escreveu longas partes de seu romance Catatau. Grupos como o trio Sá-Rodrix-Guarabyra se formaram no Solar.

Em 1972, o casarão foi demolido. “Não é difícil imaginar que a destruição de um patrimônio desta natureza seria difícil nos dias de hoje, com a imprensa receptiva às denúncias contra crimes ao patrimônio”, arrisca Toninho. Ironia do destino: a imagem do Solar está gravada para sempre no filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, de 1967, na seqüência aérea do helicóptero que passa por dentro do Túnel Novo.

O texto de apresentação do livro é assinado por Ruy Castro, que morou no Solar aos 19 anos, em dezembro de 1967.

A noite de autógrafos será dia 2 de agosto, terça-feira, na Livraria Argumento, Leblon. Muitos ex-moradores do famoso casarão já confirmaram presença.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ausência transformada em presença

Entrevista exclusiva com Hector Abad Faciolince, convidade da FLIP 2010



Ya somos el olvido que seremos...” O verso de Jorge Luís Borges foi encontrado no bolso do médico sanitarista colombiano Hector Abad Goméz (1921-1987) por seu próprio filho, o jornalista e escritor Hector Abad Filho, logo após seu assassinato por paramilitares contrários a sua defesa apaixonada dos direitos humanos. Vinte anos depois, impelido pela necessidade de contar a história desse ‘pai herói’, Hector Abad Faciolince dominou o sofrimento interno para escrever um livro ao mesmo tempo duro, afetuoso e, por incrível que pareça, bem humorado, descrito por Mario Vargas Llosa da seguinte forma: “Um espantoso mergulho no inferno da violência política colombiana, na vida e na alma da cidade de Medellín, nos ritos, insignificâncias, intimidades e grandezas de uma família, um testemunho delicado e sutil do amor filial. É uma história real, mas ao mesmo tempo uma magnífica ficção, pela maneira como está escrita e construída.”

Abaixo, entrevista exclusiva concedida pelo autor, que participa da FLIP domingo, dia 10 de julho, às 14h30, na Tenda dos Autores, junto com a escritora também colombiana Laura Restrepo. Ao final da apresentação, ele autografa A ausência que seremos, que acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras.




É a sua primeira vez no Brasil? O que conhece do nosso país? Quais escritores brasileiros teve oportunidade de ler?
 
A rigor, não é a primeira vez: pisei no Brasil em um povoado de fronteira (esquina de Brasil, Colômbia e Peru) chamado Tabatinga. Conhecem Tabatinga? Está ao lado de um povoado colombiano de nome alegre: Leticia. Sou muito ignorante sobre seu país, mas amo todas as coisas que conheço do Brasil: as incríveis Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, talvez o primeiro romance verdadeiramente moderno de toda América. Amo todas crônicas, inteligentes e comovedoras, de Clarice Lispector, que foram uma inspiração para o meu trabalho como jornalista. Tive o gosto de ler alguns romances de Rubem Fonseca, e de jantar com ele e com García Marquez em Guadalajara (México) há alguns anos: parecia um monge budista. Também li o “sertão” de Guimarães Rosa e muitos romances de Jorge Amado, em meus anos de formação, ao redor dos 20 anos; eram doces e alegres. Quando menino, lia com muito deleite os livros de Monteiro Lobato que meu pai ia me apresentando, um a um... Também já escrevi um longo ensaio explicando porque os livros de Paulo Coelho me parecem tão ruins, e porque, mesmo assim, ele segue tendo êxito. Não conheço a literatura brasileira contemporânea, estamos tão perto e tão longe ao mesmo tempo... Minha filha é fanática por Bossa Nova, mas antes disso eu já amava Vinicius de Moraes, Chico Buarque, e a melodia de Romaria cantada por Elis Regina. Espero voltar para casa carregado de livros de jovens poetas e escritores brasileiros. 



É verdade que levou 20 anos escrevendo A ausência que seremos? Quando e por que decidiu começar este livro? Em quais momentos interrompeu a escrita?

Durante 20 anos sabia que algum dia teria que escrever um livro contando a vida e a morte do meu pai. Mas durante muito tempo quis esquecer esse assunto, viver outras coisas, pois não podia conviver com a recordação permanente de algo tão doloroso. Nesse meio tempo, aprendi ofício de escritor e escrevi outros livros: romances, ensaios, coisas sérias e também frivolidades. Quando meu cabelo começou a ficar branco e vi que não era imortal (os jovens se crêem, felizmente, imortais), me dei conta de que podia morrer sem haver contado a coisa mais bonita e também a mais dolorida que havia ocorrido em minha vida: a relação com meu pai. Então, me forcei a contá-la. Era muito difícil, quando comecei a escrever, e muitas vezes tinha que parar para gritar e chorar. Abandonei o projeto muitas vezes porque me parecia um livro sentimental e cheio de lágrimas. Quando, por fim, pude exercer uma escrita mais seca, mais distaciada, senti que podia terminar. Com essa escrita mais controlada, pude contar sua vida e seu infame assassinato do ponto de vista do menino que fui, do jovem que fui – um testemunho apaixonado da vida valiosa do meu pai.


É uma tendência dos escritores iniciantes escrever histórias baseadas em sua própria experiência, em sua própria vida. Mas a maioria dos textos resulta em algo de interesse limitado. Você escreveu um texto baseado em sua própria experiência, mas resultou em um livro de alta qualidade literária. Qual é o caminho para aproveitar as experiências próprias e transformá-las em literatura, em vez de um simples relato confessional?
 
Eu diria que todas as vidas se parecem muito, e em geral a própria vida não é muito interessante. A todo mundo se passam mais ou menos as mesmas coisas: amar, trair, ser traído, triunfar, fracassar, subir, descer. Mas às vezes há fatos insólitos na própria vida ou na vida das pessoas em volta, que não podemos deixar de contar. Se a violência bate à porta da sua casa e acontece algo terrível, e ademais você é escritor, cedo ou tarde terá que contar essa história. Eu tive a sorte de que meu pai viveu sua vida de um modo muito estético, como um poeta romântico. Contar sua vida, simplesmente, já deu um romance. Mas eu não gostaria, nunca, de reviver as coisas terríveis que se passaram dentro de mim para escrever outro livro tão pessoal. Prefiro inventar ou partir de algum fato real para inventar. Este é um livro sui generis porque é real, mas parece inventado. E um livro único, porque foi motivado por uma tragédia. O caminho que encontrei para contar essa história foi o mais simples, e o que me ensinou Natalia Ginzburg com seu Léxico familiar*: contá-la toda com a linguagem mais simples possível, de um modo quase linear, sem alterar nada, nem sequer os nomes. Cada livro exige seu próprio estilo e não existe uma receita válida para todos.


* Publicado no Brasil pela CosacNaify.

 

No livro Tratado de culinaria para mujeres tristes (ainda sem data para sair no Brasil), você parece conhecer profundamente as dores e alegrias da alma feminina. Até que ponto ser o único filho entre cinco irmãs lhe permitiu o acesso a esses mistérios?
 
Não há experiência literária comparável a ter cinco irmãs mulheres: as mulheres falam mais rápido e melhor que os homens, contam com mais graça e mais detalhes as histórias. Eu não podia nunca competir com minhas irmãs em seus contos orais maravilhosos: tive que aprender a escrever para poder imitar os relatos delas, pois o meu modo de expressão não era suficiente para competir com elas. É claro que desde menino eu as observava muito, em silêncio. Sempre o que se pensa é que um menino rodeado de mulheres pode se tornar gay; esse era o temor dos meus avós e dos meus tios. Não me tornei gay mas, sim, gravei em meu cérebro uma forma de ver o mundo que inclui intensamente o ponto de vista feminino. Sou um homem comum, mas consigo enxergar o mundo através dos olhos e dos sentimentos das mulheres, muitas vezes. Agrada-me essa espécie de ‘travestismo’ mental.


Como está Colômbia hoje? O que diria a um turista para convencê-lo a visitar seu país? 

Eu amo os viajantes, mas não os turistas. A mim, me disseram que Brasil e Colômbia se parecem: selvas, grandes cidades, música, Carnaval, alegria. Também pobreza, desigualdade, grandes fortunas ao lado da miséria. Nossa tragédia foi, além de tudo, a questão das drogas, que financiaram tanto a guerrilha quanto os paramilitares, não apenas os narcotraficantes. Essa violência impediu que o país atraísse muitos visitantes. Mas agora minha cidade, Medellín, está muito melhor. Os homicídios se reduziram muitíssimo, de 7.500 para 1.500 ao ano. Também há partes do Brasil que são perigosas. Mas creio que um brasileiro não se sentiria tão estranho na Colômbia. Bem, não sei. Nesta viagem também quero averiguar o quanto nos parecemos. O prato tradicional da minha cidade também é o feijão, mas não preto, e sim vermelho. Com arroz, banana, carne moída, torresmo. Estão convidados.



Por Valéria Martins

quarta-feira, 13 de julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Novo olhar sobre a África antiga

O verdadeiro pai da medicina, segundo o Dicionário da Antiguidade Africana (Record, 350 páginas), não foi o grego Hipócrates e, sim, o sacerdote egípcio Imhotep, que viveu dois mil anos antes de Homero. Essa e outras curiosidades compõem a nova obra monumental do escritor e compositor carioca Nei Lopes, autor de outros dicionários e enciclopédias, todos voltados para o estudo da Cultura Africana e Afrobrasileira.

Neste livro, Nei desvenda a África abarcando ciências como antropologia, geografia e filosofia. O autor destaca a anterioridade das civilizações africanas sobre as greco-latinas e revela fatos novos como contatos de sociedades africanas com japonesas e chinesas. Leia abaixo cinco perguntas feitas ao poeta, compositor e ensaísta.




Por que a forma de dicionário para trabalhar a Antiguidade da África?

Desde 1988, quando publiquei o Dicionário Banto do Brasil, venho me dedicando a esse tipo de produção e criação. Eu e minha equipe, isto é, eu e mim mesmo. Tenho inclusive uma Enciclopédia da Diáspora Africana, um volume de 747 páginas, já na quarta edição. Acho que o dicionário é a forma de publicação didática por excelência, desde que bem amarradas as remissões aos verbetes principais. Não conheço ninguém que não goste de ler dicionário. E que não se deixe viajar de um verbete pro outro, puxado pela curiosidade.

Até certo tempo, as pesquisas acadêmicas sobre a África eram realizadas sob uma ótica estrangeira. Como estudos feitos por africanos e descendentes podem enriquecer nosso conhecimento sobre o continente?


Nós, afrodescendentes e africanos, somos os melhores intérpretes da nossa História e do nosso cotidiano, seja ele bom ou mau. Já não somos mais objetos de Ciência; os cientistas (mesmo os não acadêmicos e apaixonados como eu) agora somos nós, também.

O Dicionário da Antiguidade Africana traz informações ainda não trabalhadas pelos historiadores brasileiros. Como eram os contatos das diversas sociedades africanas entre si?

Havia os caminhos de comércio e circulação de cultura, os naturais e os construídos. O verbete Rotas de Comércio mostra isso. E os vários mapas presentes no livro ilustram.

Qual era a importância da África nas redes de comércio da Antiguidade?

É só lembrar o Egito faraônico e considerar que ele foi um dos principais centros difusores de conhecimento dos tempos antigos, da África para a Europa e a Ásia. É só pensar nas civilizações da Núbia, ao Sul do Egito, com pirâmides e monumentos ainda visíveis. Na Etiópia, nos primeiros tempos do cristianismo. No cativeiro dos hebreus no Egito...

Homero, o poeta grego, admirava a medicina egípcia. Qual era o grau de desenvolvimento dessa ciência?

Os gregos se apropriaram de muitos conhecimentos dos sábios egípcios, inclusive no ramo da Medicina. O próprio pai da medicina, segundo o nosso dicionário, citando modernas fontes históricas afrocentradas, não foi Hipócrates e, sim, Imhotep, que viveu dois mil anos antes de Homero. Os egípcios eram detentores de conhecimentos que muitos médicos de hoje não têm.




por Rodrigo Canuto